de Paulo Sena.
O Antropófago é uma junção de contos reais de um autor que experimentou o erotismo da vida adulta numa investigação fetichista e antropológica, sem perder o tônus sexual urgente e libertário mais visceral, mas também resgatando e emoldurando questões profundas e íntimas, em colaboração com os homens experimentados, numa escrita quase confessional, se não fossem suas reinvenções.
Buscando enaltecer a escrita erótica numa vertente mais poética e política, Paulo Sena divaga entre seu olhar caótico e inebriante sobre as relações sexuais homoeróticas e suas consequências afetivas, emocionais e psicológicas de seus personagens, em suas próprias questões existenciais e fantasiosas, numa ode à solitude e ao hedonismo.
Numa escrita apressada, curta e secreta, o autor sublinha e repete essas condições já saboreadas em seu primeiro livro, Quase Sertão, em que a primeira fase de sua vida foi esmiuçada de forma mais saudosista, com espasmos religiosos e lembranças do imaginário infantil folclórico e lúdico, e que agora, em O Antropófago, a ficcionalidade se mistura com a realidade crua, impregnada de críticas à construção social e humana atual, sem floreios e com mais sujidades.
Além da escrita, o autor, que também é cineasta, faz um ensaio fotográfico dos personagens reais, dos homens que o inspiraram, numa perspectiva quase metalinguística, visando a descortinar a literatura e revelando frames desses homens que, de forma ora verídica, ora fantasiosa, permearam a imaginação do narrador-autor-fotógrafo. É o corpo em ebulição, refl etindo e objetifi cando , sem filtros, o preâmbulo do conto a ser lido em sequência. O Antropófago é esse gozo consentido, precoce e vívido de histórias nada cabais, tão possíveis como iguais a quase todos que buscam existir sem fi nitudes a acachapar. Uma iguaria.
